quarta-feira, 5 de março de 2008

1808-2008 COMEMORAÇÃO

1808-2008 COMEMORAÇÃO - "O historiador Luiz Felipe Alencastro conta que, além da família real, 276 fidalgos e dignatários régios recebiam verba anual de custeio e representação, paga em moedas de ouro e prata retiradas do terouso real do Rio de Janeiro. Com base nos relatos do inglês John Luccock, Alencastro acrescenta a esse número mais 2.000 funcionários reais e indivíduos exercendo funções relacionadas à Coroa (...) Ao visitar as cocheiras da Quinta da Boa Vista, onde D. João morava, Henderson se surpreendeu com o número de animais e, principalmente, de serviçais ali empregados. Eram trezentas mulas e cavalos, ´com o dobro do número de pessoas para cuidar deles do que seria necessário na Inglaterra´. Era uma corte cara, perdulária e voraz. Em 1820, ano anterior ao retorno a Portugal, consumia 513 galinhas, frangos, pombos e perus e 90 dúzias de ovos por dia. Eram
quase 200.000 aves e 33.000 dúzias de ovos por ano, que custavam cerca de 900 contos de réis ou quase 50 milhões de reais em dinheiro atual. A demanda era tão grande que, por ordem do administrador da Ucharia Real, a repartição responsável pelos depósitos de comida da corte, todas as galinhas à venda no Rio de Janeiro deveriam ser, prioritariamente, compradas por agentes do rei (...) Nos treze anos em que D. João viveu no Brasil, as despesas da mal-administrada e corrupta Ucharia Real mais do que triplicou. O déficit crescia sem parar. No último ano, 1821, o buraco no orçamento tinha aumentado mais de vinte vezes --- de 10 contos de réis para 239 contos de réis. Apesar disso, a corte continuou a bancar todo mundo, sem se preocupar com a origem dos recursos (...) Pela Carta Régia de outubro de 1808, o capital do Banco do Brasil seria compsto de 1.200 ações no valor unitário de um conto de réis (...) Em 1820, o novo banco já estava arruinado. Seus depósitos em ouro, que serviam de garantia para a emissão de moeda, representavam apenas 20% do total do dinheiro em circulação.Ou seja, 80% correspondiam a dinheiro podre, sem lastro (...) O atual banco do Brasil vive, protanto, a sua segunda encarnação, na qual teve momentos muito semelhantes aos de sua origem, ao financiar, sem garantias, políticos, usineiros e fazendeiros quebrados. Outra herança da época de D. João é a prática da ´caixinha´nas concorrências e pagamentos dos serviços públicos. O historiador Oliveia Lima, citando os relatos do inglês Luccock, diz que se cobrava uma comissão de 17% sobre todos os pagamentos ou saques do tesouro público. Era uma forma de extorsão velada: se o interessado não comparecesse com os 17%, os processos simplesmente paravam de andar. ´A época de D. João VI estava destinada a ser na história brasileira, pelo que diz respeito à administração, de muita corrupção e peculato´, avaliou Oliveira Lima. ´A corrupção medrava escandalosa e tanto contribuia para aumentar as despesas, como contribuia o contrabando para diminuir as rendas´. É um engano achar que só o ingleses se beneficiaram nessa história. Muitos brasileiros e portugueses também ficaram ricos. Alguns de maneira desonesta. Os relatos dos viajanges estão repletos de histórias de estrangeiros enganados pelos comerciantes locais, que passavam adiante produtos e mercadorias de baixa qualidade comos e fossem outra coisa. ´Vendiam-se turmalinas por esmeraldas, cristais por topázios, e pedras comuns e imitações de vidros por diamantes´, contou John Mawe. ´Gamelas de latão, compradas aos ingleses, eram limadas e misturadas com o ouro (em pó) na proporção de cinco a dez por cento´. Madeiras baratas e de cor avermelhada das florestas do Rio de Janeiro eram vendidas como se fossem o valiosíssimo pau-brasil, madeira de lei cujo comércio era rigorosamente fiscalizado em Pernambuco. Era a malandragem brasileira fazendo mais uma de suas perfomances de gala nas páginas da história nacional (...) Uma bomba populacional abalou o Rio de Janeiro nos treze anos dem que a corte portuguesa esteve no Brasil. O número de habitantes, que era de 60.000 em 1808, tinha dobrado em 1821. Só São Paulo transformada na maior metrópole da América Latina na fase de industrialização, na primeira metade do século XX, veria um crescimento tão acelerado (...) A criminalidade atingiu índices altíssimos. Roubose assassinatos aconteciam a todo mometno. No proto, navios eram alvos de pirataria. Gangues de arruaceiros percorriam as ruas atacando as pessoas a golpes de faca e estilete. Oficialmente proibidos,a prostituição e o jogo eram praticados à luz do dia " ("1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e muderam a História de Portugal e do Brasil", de LAURENTINO GOMES, Editora Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, páginas 189 a 192, 212, 228 a 229). ALGUMA SEMELHANÇA COM OS DIAS ATUAIS, APÓS 200 ANOS? ALGUMA COMEMORAÇÃO?